segunda-feira, 27 de outubro de 2008
esperas que passe a monção, a chuva pernoita no teu colo, enrolada nos braços que não sabem onde foram parar as dores. a manhã foi pesada e algumas músicas, de dias menos felizes, entraram-te pelos ouvidos e fizeram cama no teu coração. ficaram. ontem o conto parecia ter um final feliz, hoje o lobo comeu a avó e o capuchinho foi violado pelo lenhador. a noite acarreta alguns medos, coisas que vêm de dentro e se acumulam com o pó em cima dos ossos. há pesares doridos e as agulhas que se espetam entre a carne e o músculo aquecem-te a solidão. tens falas decoradas entre silêncios, flores a crescer nas mãos onde apodreceu a carne pela falta de carinhos. talvez a tarde te caia aos pés e te dês conta que o avesso do relógio interrompe as paredes da casa onde vives. estás sentado na noite e ouves o miar dos gatos no limite da rua. talvez hoje caia um anjo. a porta está cerrada por fantasmas que te chegam do passado. antes havia o tempo de ser feliz, com vozes que vinham de perto e corpos que se desapertavam como parafusos. o tempo é uma máquina. olhas as mãos paradas no vidro, foge, corre com a chuva, para longe, tão longe que os assobios do metal contra o plástico não se confundam com risos e que o cheiro a borracha queimada morra na fricção do dedo polegar com o indicador. és livre.
para o meu amigo bruno sousa villar
2 comentários:
Bela mensagem.
Bonita a amizade que pede palavras assim...
Nunca os teus comentários são aquém...obrigado pelas tuas palavras
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