segunda-feira, 14 de setembro de 2009

outros há que ousam segredar-me o fim do horizonte, como se lhes orvalhasse no coração tamanha infelicidade, que as árvores então inclinassem as copas em direcção à raíz. outros há que guardam histórias tristes no bolso das mãos, para me contarem quando estiver mais feliz. julgo ter perdido o jeito de pronunciar o teu nome sempre que estás longe, estás tantas vezes longe que as próprias vogais comeram as consoantes e na dissonância do teu nome, quando gritado pelo meu, levantam-se pássaros migratórios, desses que andam de coração em coração a debicar migalhas de amor. e o que de ti guardo vai secando, como se as estações do corpo passassem na pressa dos dias de inverno e as flores, que voltadas para a chuva entristecem, começassem lentamente a morrer. queria que as estações não me pesassem tanto na pele, para me ser possível guardar-te nas primaveras.

por: mar

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sexta-feira, 11 de setembro de 2009

julgo hoje ser, na perpendicular deste texto, a linha ténue que separa a relidade da ilusão. no trecho breve deste início de noite, escrevo as tuas mãos ausentes, de fora da baínha dos sonhos, à espera que eu as toque ou que, num qualquer modo que desconheço, caia entre as rugas delas e me afogue nas lágrimas retidas à epiderme da pele. por estares morto é que te ouço, a bater os dentes sobre o frio pausado da noite que nos chama, é por estares morto que me ouves, no não falar coisa nenhuma que me embarga. se hoje pudesse matar-me, morrer deveras, esticar os pulsos e cortá-los ao som da angústia, deixar a vida fechar-me a porta de todos os textos; se hoje pudesse ficar aqui.

por: mar

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