segunda-feira, 30 de junho de 2008

ao ser que me eras, tozé!

eras tozé um menino e antes de seres criança foste adulto, o melhor adulto que pisou a terra que ainda piso, eras tozé um senhor e antes de seres senhor já sabias escrever a vida em sapatos envernizados de sola rompida achados no lixo. e se o mundo fosse vivo tozé, se o mundo fosse vivo ele não deixava o teu ar de menino morrer nas mãos do teu pai, o teu pai, o desgraçado do teu pai que entre os goles de aguardente ainda encontrava tempo para te bater, a cabeça contra as paredes, os dentes partidos e as nódoas negras espalhadas pelo teu corpo de criança crescida. eu não sei tozé quantas vezes as estrelas foram testemunhas do teu martírio! eras tozé um menino com o coração embalsamado depois da caçada, fizeram de ti senhor de camisa rota e a dor dos teus compassos de espera ocupava a sala de tantos hospitais que visitaste como se fossem museus onde só entra quem tem mais do que um cartão de crédito na carteira. eras tozé um senhor de cabeça erguida num corpo ferido camuflado pela roupa, a roupa suja pelo tempo não menos sujo que te ofereciam. tozé diz-me, quem foi? quem foi que entrou pela porta do teu quarto naquela noite, quem te fez arder no pecado de te sentires morto nas mãos, as mãos fartas de ti e da tua pele, de tantas outras noites te terem tocado, diz-me quem!

por: mar

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os meus xutos e os teus pontapés

desenho-te na perfeição de um pequeno-almoço recheado enquanto na tv as previsões meteriológicas anunciam mais um dia de febre alta. tu sentaste na minha frente com o jornal aberto, não percebo porque todas as manhãs lês as notícias do dia anterior. será por pensares que as desgraças nele escritas foram ontem? o passado enche-se de notícias tristes mas recessas. rio para mim do modo desastrado como deito café na minha chávena, entorno algumas gotas em cima do pacote de açucar, sujo as mãos a tentar abri-lo, sujo a camisa e vocifero meia dúzia de palavras feias enquanto me apresso a trocá-la.tu não tiras os olhos das páginas do jornal e eu, bronco como sempre, preocupo-me mais com as notícias que me chegam do teu generoso decote, peço-te delicadamente para trocares de camisola, não consigo imaginar-te a trabalhar num escritório de advogados com essa camisola, melhor, não consigo imaginar-te a trabalhar em nenhum lugar decente com esse mísero pedaço de pano. tu ris um pouco, pousas o jornal e começas a caminhar de um lado para o outro, arrumando a cozinha, não dás nenhuma importância ao que acabei de dizer, eu não sei se fazes de conta ou se não entendeste mesmo mas prefiro acreditar na segunda hipótese. a cozinha já está arrumada e eu já te espero, ainda esperançoso que estes minutos de demora sejam passados a trocar a camisa. tu chegas e não me agradas, caminhas com os seios a dançar-te no peito, a linha ténue do teu decote deixa salientar a libertinagem dos senhores seios, vontade de os tocar. silencio.
entramos no carro, eu conduzo devagar, quanto mais tarde chegares ao escritório menos tempo tens de lá estar,tu reclamas o meu vagar e eu finjo também que não me apercebi do que disseste, tu fazes questão de repetir tantas vezes que até mesmo um surdo conseguiria entender que queres que acelere. eu acelero e quando chegamos ao centro da cidade paramos no semáforo e os transeuntes param os olhos em cima do teu peito, porta aberta para os seios e eu envergonho-me por ti e por mim e faço cara de mau, tu continuas a sorrir enquanto retocas a maquiagem no espelho retrovisor.
paro em frente ao teu trabalho e já com os olhos postos no segurança espero que este não te olhe os seios, se o faz sou bem capaz de ter um ataque qualquer e ir à mala buscar a t´shirt XL dos xutos que comprei no concerto da semana passada. tu beijas-me, despedes-te com um até logo e afastas-te com a pressa de quem está atrasado dez minutos, o segurança cumprimenta-te com sorrisos e os olhos param-lhe nos teus seios e eu imagino mil olhos em cima dos teus seios e perdoa-me mas não aguento sequer imaginá-lo. saio do carro e grito o teu nome, tu voltaste e eu peço-te para esperares uns minutos, vou ao teu encontro com a t'shirt dos xutos na mão, peço-te que a vistas e tu sorris descontroladamente enquanto me julgas tolo e a tua cabeça me desenha um estalo na bochecha esquerda. eu nem me despeço e cabisbaixo saio dali, entro no carro e fico, como de costume, à espera que venhas à janela do teu escritório acenar-me um "até logo", lá estás tu a acenar já com uma catrafilhada de documentos na mão e a cara do Tim estampada no tronco. eu amo-te e danço com o carro.

por: mar

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domingo, 29 de junho de 2008

maria desconhecida

na banalidade do teu nome, maria, eu encontro um motivo para te considerar humana, apesar de tudo apontar no sentido contrário. maria, vá não me olhes desse jeito tão teu, envergonhado quase sempre desajeitado como se o teu olhar fosse ainda aprendiz. é por te desconhecer que te amo e aos meus olhos és a maria desconhecida, dás passos pequenos e rapidos, nunca maiores que as pernas, o teu cabelo é um mar de ondas desconformes e desiguais, os teus olhos, ó os teus olhos maria, são duas castanhas fora de estação, gosto de ti. gosto do jeito que não tens, dos beijos que nunca trocamos só porque me afasto quando me apetece estar demasiado perto, é sempre. gosto do teu perfume, cheiras a afluente do tâmega, tens plantado no lugar do coração um pinheiro manso.
maria, maria, maria, maria desconhecida. e é este mistério a perturbar-me o sono, manhãs, tardes e noites a tentar decorar o tecto do meu quarto. e és maria e essa conformidade leva-me a acreditar que não tens asas. minto a mim proprio.

*pequena dedicatória à maria desconhecida que vive em mim.

por: mar

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quinta-feira, 26 de junho de 2008

plantaste uma flor roxa no meu dedo anelar

tu. sento-me aqui para falar de ti, cruzo as pernas, a plateia à minha frente é composta de memórias e lembranças, de momentos nossos que gosto de reviver várias vezes ao dia. respiro devagar e falo-te como quem aquece as mãos uma na outra. tu és um contador de histórias, és um soldador de mundos, um taxista do tempo, um colecionador de bons momentos e eu apaixonei-me, fecho os olhos e é o teu nariz a cumprimentar o meu antes das nossas bocas se namorarem. tenho o meu mundo dentro de ti às voltas e sei que está bem entregue. desenhaste a nossa terra do nunca com a ternura nas pontas dos dedos e limaste arestas como quem faz bolas de sabão com um sopro, entristeceste-me a tristeza e ela fugiu a sete pés dando lugar a sorrisos de arco-íris, secaste-me a dor e regaste-me a esperança como se rega o jardim quando o calor aperta. senta-te comigo hoje na rede lá fora, vamos roubar estrelas e colá-las no tecto do nosso quarto, vamos contar histórias com o meu ouvido no teu peito e calar as bocas com beijos tingidos de luar. vamos? dança comigo nos labirintos do amor, não quero encontrar nenhuma saída.
e antes que o dia acenda a luz casa-te comigo, vamos viver juntos na nossa caixa de música, aquela do tamanho do mundo inteiro que nos pertence e deixa-me adormecer agarrada a ti porque o tempo a teu lado nunca é a preto e branco.



para o meu menino, luís

por: mar

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quarta-feira, 25 de junho de 2008

a minha casa tem quatro rodas

joão fechou a porta atrás de si e sorriu, ele sabia que o passado estava agora do lado de fora da porta, amélia entrou no carro, acomodou-se no banco enquanto ligava o rádio e ouvia a metereologia, pensou na chuva que se adivinhava certa para amanhã e deixou que algumas lágrimas lhe caíssem rosto abaixo. joão entrou na cozinha, sentou-se a observar a chaleira que ainda assobiava à lareira, agarrou a sua mão e tirou a aliança com cuidado, lançou-a para cima da mesa e respirou a liberdade, cheirava-lhe bem, a rosmaninho e a alecrim ou a cravo e a canela, já nem distinguia os cheiros. amélia tinha os cabelos presos como os gestos ainda presos àquela casa que de repente deixara de lhe pertencer, joão tinha os olhos livres em órbitas de outros planetas onde amélia nunca pousou os pés. e o que para amélia ainda era um campo de minas para joão não passava de um molho de rosas colhidas à tardinha no jardim atrás da casa. amélia agarrou-se ao volante e deixou que a tristeza de uma despedida lhe caísse em vozes de silêncio atadas na sua boca. joão permaneceu com um sorriso rasgado e redondo no rosto, abriu a gaveta da sala e retirou o álbum de fotografias que via agora pela última vez. amélia chorava enquanto o joão cantava as maravilhosas e encantadoras melodias de ser livre.
joão tinha os dedos gastos por dedilhadas de músicas que o tempo tornava nostálgicas, amélia nunca soubera tocar fosse o que fosse, nem o coração dele ela conseguiria tocar uma vez que fosse. joão corria pela casa ao som de passos já esquecidos no soalho. amélia chorava dentro da casa que lhe sobrara, a única casa que agora podia considerar realmente sua. joão deu a volta à casa pelo lado do jardim e ainda viu o carro ali parado, zangado atravessou o pátio a passo rápido, amélia entretinha-se agora a escolher uma banda sonora triste para a acompanhar na sua última viagem estrada fora, joão bateu no vidro, três pancadas que não eram de amor, amélia abriu o vidro que descendo levava consigo grande parte da mobília de uma casa que acabara de lhe pertencer, joão rispidamente bateu o pé no pneu enquanto uma dúzia de vocábulos disconexos lhe saíam pela porta da frente do corpo, a boca. amélia tremia, bailava entre as pupilas do joão sem perceber em que momento o tinha desagradado mais, calou-se, ficou encostada ao banco com as mãos escondidas nos bolsos onde ainda guardavam sonhos que havia de ter. joão abriu a porta do carro como se ele ainda fosse dele, amélia pontapeou-lhe as canelas e num gesto pouco súbtil trancou a porta, subiu o vidro e metendo a marcha-atrás despediu-se num ápice do joão que caído continuava agarrado aos seus cheiros de rosmaninho e jasmim ou cravo e canela, travos doces de uma liberdade que começava agora a ser amarga.

por: mar

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domingo, 22 de junho de 2008

ruben.

e ela julga que o amor não existe, eu gostava de lhe dar a mão agora e dar-lhe um beijo mas calo-me. sozinho esgano a vontade de a amar e ela fica ali a reclamar, às vezes chora entre os gritos e os movimentos do braço que batem no espaço, às vezes sorri com o silêncio a desapertar-lhe os botões da camisa, está calor. eu sento-me numa rocha e fico ali, perdido entre os pensamentos nela e a voz dela rompendo o espaço. o amor existe, cátia o amor existe. ela não ouve e continua, a água quieta molha-me os pés.
e a amizade que lhe tenho, essa que de repente se transformou em amor, sem me dar conta antecipa-se e abafa a minha vontade de a ter entre os meus braços.
pensamentos súbitos na morte, vontade de desaparecer e ela continua longe, a uns passos daqui agita o ódio por um rapaz qualquer que a fez sofrer. não sei o que deva fazer agora, despistar a vontade de morrer, conhecer-lhe unicamente a amizade? amo-a tanto. tanto. não consigo vivê-a só como amiga, não posso. arde-me no peito um amor em forma de coração, corre-me pelo sangue.
digo-lhe que quero ir embora e ela abate a sua fúria momentâneamente, vem ao meu encontro, estremeço. apetecia-me dizer-lhe calo-me e ela antecipa-se-me em mãos que se dão à pressa. ela não sabe o mal que isto me faz, sem querer deixo crescer-me o amor e fujo. ela corre atrás de mim mas eu não sei para onde vou, escondo-me à pressa entre os arbustos e desapareço-lhe da vista.
a linha do horizonte cava-me nos olhos a tristeza. a amizade não me chega mas sei que é o único sentimento que ela pode entregar-me e não é pouco. choro. de repente até a morte faz mais sentido que tudo isto, corro pela esttrada como um louco, já nada mais me importa. já nada mais me interessa. se eu ficasse ela não me entenderia, daqui a uns anos era eu a sofrer sozinho e calado e ela a reclamar de um rapaz qualquer e de um amor que não existe. por isso vou, empurro-me o corpo contra a frente de um camião. agora e antes que a morte me leve, grito. grito-te cátia. o teu nome e o amor que te tenho.

baseado numa frase retirada do diário do ruben:
"o amor que te tenho infelizmente não chega para me impedir de morrer"


era um rapaz bonito com o coração caído do peito rasgado, os olhos castanhos não contrastavam com a pele morena. quando sorria abriam-se-lhe na cara duas covinhas que logo se inundavam de lágrimas, nunca aprendeu a arte de não chorar. chorava devagar, o tom era sempre o certo e o mesmo, de vez enquando soluçava e eu ficava ali a vê-lo sem o abraçar, nunca gostou de abraços.
ruben tinha os cabelos de tons claros como a roupa, nunca nada na sua vida foi escuro. as suas palavras alegres e os seus risos entregues não deixavam que os sonhos virassem pesadelos.
o ruben morreu e eu chorei. o ruben chorou e eu vivi. é justo?

à memória do ruben com
lágrimas de saudade a inundar-me a face,
mar.

por: mar

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sábado, 21 de junho de 2008

meu querido cancro

e morres-me devagar, devagarinho. a cama de hospital é pequena para tanta morte e eu de braços cruzados espero com a minha vida presa na chiclete colada na sola dos meus sapatos. é um cancro, um cancro aqui ou ali, pouco me interessa que parte do teu corpo ele habitou, qual é a sua casa, pouco me interessa. é um cancro e ainda por cima é desses que são pior que chicletes coladas na sola dos sapatos, inquilinos mal comportados que gostam de se mudar de um lado para o outro sem avisarem, não pagam ao condomínio. é um cancro meu amor. conheci-te em Abril e para mim apartir de então todos os anos são compostos por doze “Abris” por isso eu não sei em que mês estamos, que tempo faz, também não interessa, é amor e todos os meses serão de amor num ano de amor para a eternidade de amor mesmo após a tua morte, meu amor.
morres-me devagarinho na fala dos enfermerios, médicos, auxiliares, amigos, familiares, nas condolências adiantadas, nos sentires pesados. quero lá saber disto tudo, não me interessa que morras só me incomoda que te matem, meu amor eu não quero que te matem tanto quanto não quero que morras mas parece que tens a habitar o teu prédio um só inquilino safado que se recusa a sair, já fui tratar dos papéis com um advogado mas precisamos de um mandato e do jeito que a justiça está em Portugal nem daqui a três meses conseguimos um. meu amor, até lá morres-me devagarinho nesta cama de hospital onde o branco que tanto odeias toma conta das últimas recordações que de ti terei.

por: mar

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sexta-feira, 20 de junho de 2008

camila

Camila tem o ar seguro de quem já enfrentou a vida de frente como quem pega o touro pelos cornos. nasceu triste como as àguas de um novembro não menos triste num ano de pouca produção agrícola. passou fome. passou tudo com o corpo esguio e altivo de quem sonha conseguir tocar no tecto da noite e roubar meia dúzia de estrelas. quando o dia de ontem raiou Camila arregaçou as mangas da camisola, pegou na sachola e cavou fundo no quintal. do outro lado do muro o vizinho sempre curioso espreitava cauteloso não fosse ela levantar-lhe o olhar e atirar-lhe com algumas pedras, como já havia acontecido.
cavava fundo camila, com um grande buraco aberto e uma poça de água no lugar do coração, sentou-se e começou a preenchê-lo com as tristes recordações que lhe enchiam o peito: fotografias, cartas, restos, pedaços de uma vida que um dia lhe fora.
a velha Camila com o corpo delgado e enrugado, sujo pelo pó dos dias, desfazia-se hoje do peso que lhe corcundava as costas. a idade não a engana e nem quando a vista lhe turvou ela cedeu à força do tempo que lhe restava.
mulher de grandes paixões nunca ninguém lhe conheceu um único amor e agora, com o seu olho esquerdo Raul não via outra coisa que não fossem cartas de amor, corações de papel, rosas já murchas. nem a curiosidade de Raul era suficiente para quebrar o ritual de Camila.
pouco a pouco o buraco ia-se enchendo, uma vida de entulho, de lixo, de poeira acumulada em cima de móveis de casas que nunca tinham tido o prazer de a ouvir de novo. Camila chorava e o seu coração fraco, que antes sobrevivera inerte a dois enfartes do miocárdio agora morria, lentamente, como um filme que passa em câmara lenta. doía-lhe no peito um buraco aberto agora vazio.

por: mar

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quarta-feira, 18 de junho de 2008

pedaços de lua nos pés

acordaste com o toque suave do meu beijo, depois de perguntares as horas bocejaste, sorriste e levantaste-te com o coração a segurar-te as mãos (ou seriam as mãos a segurar-te o coração?), as tuas pegadas tingiam o céu com pó branco e tu nem reparaste. voltaste já com as mão estendidas sobre o corpo, sentaste-te na cama e começaste a vestir-te, eu alcancei-te e beijei-te a pele recém-acordada, tu retribuiste.
olhei-te os pés e percebi porque chegaras tão tarde na noite anterior, estiveras na lua.


* tens pedaços de lua nos pés meu amor.

por: mar

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não te vás

atropelas o meu riso com palavras tontas. estavam presas? sei bem que as amarravas ao céu da tua boca esperando que fosse a minha língua a ir buscá-las. não fui. continuas, não te calas. e entre tudo o que disseste há uma parede húmida de mentiras que atiras contra a minha cara, fazem ricochete. mentiroso.
calo-me com o peito acalentado, aos meus ouvidos uma música clássica que devagar embriaga os meus passos rumo a um chão, paredes que me conhecem melhor o corpo solidificado. fico. encosto a cabeça ao vidro da janela e escorro como a água, deixo de agitar as mãos e páro, quieta escuto a tua voz cantando uma ópera de falsidades, ao fundo uma música qualquer.
perene de sonhos bons cavas-me no peito o medo da despedida. não vás! grito à boca fechada, a porta aberta. e é o teu vulto a embaraçar a porta de casa, a tua silhueta a sombrear as escadas e a rua a fechar-se para não te deixar partir. tu vais. entras no carro. olhas-me e esmurras o volante.
parada olho com o peito cimentado de tristeza. não vás! grito à boca fechada.

por: mar

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tudo começou com a chuva de abril

meu amor não deixes que as tuas mãos de manteiga deixem cair o meu coração, ele é frágil como um cristal, pequenino como o amor inteiro que te cabe na palma da mão. meu amor a vida é este prato vazio onde a comida esborda e eu sem apetite. só tenho medo de acordar esta noite e ver que os meus sonhos são reais, às vezes a minha testa está tão quente que parece que tenho febre mas são as minhas lágrimas que se acumulam e em vez de cairem sobem-me à testa e bailam ali tresloucadas com medo de tombarem. se cair agora quebro-me toda, sou vidro. respiro pó e remoo o cansaço partindo-o pela metade. choro. deito-me no chão pintado pelas tuas cores nenhumas, não gosto de não te saber as cores. não gosto. não gosto de chorar mas por vezes tenho de insultar as lágrimas e tombá-las pela minha face só para que lhes doa tanto quanto a mim, inclino a cabeça e peço-lhes que caiam todas que eu já não tenho espaço na minha testa a arder. a minha testa é um incêndio de matas cheias num verão demasiado quente para sobreviver, bem sei que não gostas de calor.
meu amor não me deixes cair desta nuvem que pescamos com a chuva de abril.

por: mar

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domingo, 15 de junho de 2008

a dança do salão do tempo

quero ser feliz enquanto te sussurro meia dúzia de verdades tão sólidas como o sentimento que carrego no peito. amor.
quero fazer-te feliz com estas mãos calejadas de dores e sofrimentos, com estes pés enlagrimados, com este corpo que só conhece uma casa, o teu. quero-te.
calo na garganta os gritos e os horrores indefesos por te querer assim tanto e acredito, com as minhas maiores forças acredito ser capaz de te embalar para sonhos bons num lugar encantado que construimos com a nossa pele. amor. se a vida for nossa e nos pertencer quero que ela se torne a tua face perto, a tua mão na minha, o nosso corpo. quero-te. se a vida for um caminho eu percorro-o se tiver a certeza que estarás a meu lado.
às vezes a servidão de passagem não me deixa ver o além horizonte e os meus olhos fixam este ou aquele ponto tão longe, tão longe que não consigo nem alcançá-lo com o olhar. perco-me. logo a tua mão me conduz contra o teu peito e respiro fundo pela tua boca, meia dúzia de silêncios que se evocam em melodias perfeitas. danço. meu amor eu danço nas tuas pernas e sou vagabunda de mim mas senhora de ti.
rasgo as penas de dores que se transformaram em galinhas. rasgo-as aos bocadinhos e deixo que a música alegre una as pontas deste cordel que é o amor. quero-te. ouviste? quero-te.
já não falo mais a língua do comum mortal, já não banco heroína sem motivo porque hoje faz sentido querer salvar o mundo, faz todo o sentido em ti. danço com o teu corpo preso no meu.
quando o amor assim dança nos salões do tempo não existem separações. páro. deito-me no chão contigo por cima e antes que a música acabe eternizamos o amor, unimos o sempre à vontade de o viver.
quero-te e amo-te.


para o luís

por: mar

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sábado, 14 de junho de 2008

luís.

luís tem os olhos de cor nenhuma e se o olhares com atenção descobres-lhe um livro de contos no meio da testa. luís tem uma bicicleta mas poucas vezes a usa, prefere andar a pé embora não aguente caminhadas de mais de dez minutos. luís tem uma máquina fotográfica que usa para memorizar o mundo nas paredes da sua casa. mora num bairro estreito onde as vozes do lado se confundem com a sua, a sua voz é calada, muda.
as mãos do luís são sibilas, às vezes andam no bolso outras vezes seguram as minhas. as mãos do luís semeiam sonhos como quem semeia centeio no campo. luís sabe, ele sabe a súbtil diferença entre o sonho e a realidade. gosta do mar embora não o conheça bem e sabe com precisão em que canto do céu nasce o sol e em que canto gosta ele de se pôr. os pés do luís têm medo do futuro mas nem por isso deixam de o percorrer, o seu corpo fala mais de duas línguas enquanto a sua boca pouco fala. luís tem cabelos de cor nenhuma e no peito sempre aos saltos um coração que vive em demasia.
luís é um menino, sempre será um menino. a cara dele é um jardim onde se estende uma rede, deitaste e nunca mais te consegues levantar, há músicas que se desprendem da sua pele e que cheiram a eternidade. há um mundo, há um mundo preso nos seus gestos e é esse mundo que nos permite acreditar na felicidade. luís é um princípe escondido nessa história de encantar que escreves todos os dias, a vida.

por: mar

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leonor.

quem contou a leonor que o seu pai já lhe morrera?
quem lhe contou não sabia o mal que lhe fizera.

leonor o amor não acha.
leonor tem sete cravos espetados no coração, tem buracos cavados na palma da sua mão, morrem-lhe os cabelos presos num passado que já fora seu. leonor tem pele calma de uma quietude tal que enfrenta a maré alta com destreza desigual. ela não se ri do povo. ela nunca soube rir. leonor sorri de novo às dores que a fazem cair.
onde vais ó leonor com os cabelos molhados? não procures mais o amor quem o procura não acha.onde vais ó leonor com os pés ainda descalços? olha que eu gosto de ti.
leonor o amor não acha.
leonor nunca soube de que cores pintar o mundo, o pincel do seu olhar é feito de pinceladas escuras e no fundo dos seus olhos leonor esconde vidas, nas costas da sua mão leonor descobre feridas. leonor tem passos lentos, cambaleia o seu corpo como quem aprende a andar. leonor tem contratempos numa música esquecida que nunca se há-de tocar. leonor senta-se à mesa com as pernas cruzadas e fala devagarinho palavras já preparadas, leonor vive sozinha numa pequena casa onde o tempo se esconde debaixo da carpete. onde vais ó leonor com o corpo assim curvado? não sabes que eu te espero com o amor a meu lado. onde vais ó leonor com lágrimas no olhar?
leonor o amor não acha.

quem contou a leonor que o seu pai já lhe morrera?
quem lhe contou não sabia o mal que lhe fizera.

por: mar

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sexta-feira, 13 de junho de 2008

isabel

isabel guarda nos olhos rasgados um meio mundo de sonhos e nas pontas espigadas dos cabelos meio mundo de realidades. isabel guarda nas dobras das rugas das mãos o silêncio em tons de músicas antigas, dessas que ainda não conheceram outra casa senão o disco vinil. a roupa é velha como as pedras da calçada por onde sempre caminha, os pés tão gastos que entre os dedos guardam a subida e a descida sempre pelo mesmo lado. isabel já não cobre de palavras as rédeas da sua pele, já desconhece as chuvas num Verão acabado de começar. o passeio é dela quando se senta e olha o céu onde o azul já tremido se encolhe na menina dos seus olhos rasgados.
isabel tem passos de caracol e um sorriso que nunca conheceu meias medidas. veste tons escuros e há muito que é viúva, viúva de queixo caído num chão de cores neutras. isabel escureceu a vida com o preto dos seus olhos rasgados e nunca conheceu ninguém que lhe conseguisse destrancar o coração. trazia pendurado no coração um contrato de arrendamento.
isabel contava meia dúzia de histórias devagarinho com a mesma destreza com que cosia os retalhos de uma vida meia estragada. gostava de pescar a vida à tarde quando o sol se escondia atrás do mar. isabel regava a aurora com as suas lágrimas.
isabel guarda nos olhos rasgados um meio mundo de sonhos e nas pontas espigadas dos cabelos meio mundo de realidades.

por: mar

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quarta-feira, 11 de junho de 2008

volta-me.

o chão da sala acumula o pó de tantos dias sem ti do meu lado, gasto a sola dos sapatos às voltas na varanda onde a noite se encosta para descansar, a sua velhice agarrada à minha. quando voltas? sento-me na rede onde tantas vezes inventamos formas de nos acarinhar e deixo que a madrugada me devolva sorrisos no teu rosto. deixo-me ficar até a manhã me fazer cócegas nos pés, acordo ainda sem perceber se é sonho ou realidade, levanto-me e ajudo a bengala a indicar-me o caminho até à sala. sento-me e espero que a criada me sirva o pequeno-almoço. de novo o teu cheiro com o pão quente da manhã, de novo o teu sabor a café na minha boca. roubo um pouco do meu coração aos pássaros que chilreiam lá fora. espero que a criada sacuda as migalhas e enquanto me acomodo junto à janela os pássaros aniquilam os restos do que em mim foras, ou és...

o meu amor tinha as mãos caiadas de sóis difíceis de caçar, presos entre os dedos das mãos estavam os tantos carinhos que delicadamente sucumbiam à vontade de se entregarem. rasgava com os dentes as frases mal escritas das tantas cartas que lhe entregavam a meu mando. os cabelos eram cinza de uma fogueira que ainda não se apagara. os pés conheciam apenas um caminho, o meu. a sua casa era nos meus olhos e a sua morada nos meus lábios e nunca houve ninguém que lhe conhecesse outro sorriso que não o meu.
o meu amor era um simples desapertar de botões.

a noite rasga-me o vento por entre os cabelos já gastos pela sombra de muitos dias sem o sol das tuas mãos. o dia entre as rugas da minha pele mal a manhã se principia em cantos e sinos que batem a rebate. esqueço-me da tua falta só quando te leio em cartas de mofo prestes a apodrecer, só quando te vejo em fotografias de chuva, pintadas de lágrimas. esqueço-me da tua morte e escrevo-te a carta de todos os dias, todos os dias pinto a tua face em tons de esperança com a pena de já não te ter perto apertada entre os dedos da minha mão direita, todos os dias aceno a tua chegada na varanda onde tantas vezes sofri a tua partida. encosto-me à rede e espero que o suor de Junho me afogue.

por: mar

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segunda-feira, 9 de junho de 2008

não há ruas tristes

não há ruas tristes. olhaste-me. dei-te a mão.
soubemos ambos que o futuro estava nos nossos pés a inventar pegadas pelas ruas da cidade. tu sorrias e entre este e aquele sorriso abria-se o céu em risos de embaraço. as montras das lojas pareciam todas iguais, só o teu reflexo nelas valia todo o presente que nos ofecera a vida. pausamos os corpos e enlaçamo-nos em beijos que as nossas bocas desenhavam sempre que se encontravam. e tu eras o toque, tu eras o sol a esconder-se por detrás das casas que ora aqui ou ora ali segredavam o nosso romance ao rio, podia não ser o rio mais bonito do mundo mas era o único rio, o único rio que brincava com as nossas palavras e os nossos silêncios enquanto os nossos pés bailavam ao sabor do vento. o vento sacudia as nuvens que pareciam feitas de algodão doce. nós sentamo-nos no muro e respiramos um pouco enquanto as mãos se agarravam em promessas de nunca mais se afastarem. não te quero longe. quero-te perto, tão perto que não se possam escrever distâncias ou descrever faltas ou até imaginar saudades. e a tristeza de te ter descoberto longe morria-me nos braços dados com os teus.
não há ruas tristes. olhaste-me. dei-te a mão.
soubemos ambos que o futuro estava nos nossos olhos a brilhar no cais de duas vidas que pouco a pouco se transformavam em uma. e foi à noite quando o teu corpo se uniu ao meu que eu soube que a certeza de te querer sempre ao meu lado era a mais pura das verdades. acordamos os passos da cidade com os carinhos, a madrugada afagava-te os cabelos e a tua boca calada contava-me todas as tuas vontades. fomos tudo e ainda somos. paramos as horas do relógio e trocamos as voltas ao calendário. eu e tu, parados entre o aqui e o agora, comprometidos pela luz de um dos candeeiros de uma dessas ruas que já nos sabem de cor nessa cidade que me era desconhecida.
não há ruas tristes. olhaste-me. dei-te a mão.

por: mar

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quinta-feira, 5 de junho de 2008

as palavras que disparaste mataram-me o amor

as palavras saiam-te da boca sem pensares, entupiam os buracos num caminho onde caíamos, estatelavam-se num chão de abraços que não se davam e eu sentada na borda da estrada chorava o silêncio entalado na garganta. o rosto contraia-se nos tantos sorrisos que nunca conheceu, a boca perdia-se em gemidos breves de palavras nada leves que agitam e redemoinham as árvores em redor. onde vais? tu calaste com o coração entalado entre os dedos das mãos que de um lado para o outro se agitam num corpo que não corre, anda desenbaraçadamente sobre a corda bamba da pressa desalinhada. onde vais? e tu calaste com os olhos postos sobre a linha do horizonte onde o sol tombava por detrás das montanhas, tu calaste depois de teres soltado uma tempestade de palavras que agitava a tarde calma. a neve dos teus passos, o outono dos teus braços, a primavera dos teus sorrisos, o verão dos teus gestos, as estações desaparecem e agora não te sei dizer que tempo está ou que tempo faz. foste. havia um mundo antes de partires, um mundo enlameado mas um mundo inteiro que quebrava e quebrava tão devagar como desaparecia na ténue e súbtil fronteira entre o que temos e aquilo que gostavamos de ter. e tu riste quando te pedi um abraço, pensavas que um abraço não se pedia dava-se mas eram poucas ou nenhumas as vezes que o davas, riste da minha cara onde morava uma expressão de carência que nunca me conheceras. deixo-te rir enquanto me olho com o peito cheio de ar e uma bomba na barriga prestes a explodir. apesar de doer deixo-te rir e rio-me contigo da minha pequenês e daquela grandiosidade que nunca em ti descobriras. as palavras saiam-te da boca sem pensares, entupiam os buracos num caminho onde caímos, estatelavam-se num chão de abraços que não se davam e eu sentada à margem de um rio de lágrimas murchava como uma flor desamparada num descampado onde o sol incide. a tua face pinta-se de cal e o teu olhar cospe um perto que já não se sabe, rasgas-me as páginas escritas de palavras que não quis ouvir? faz de mim o diário que queimaste quando ela te deixou, faz de mim as fotos que queimaste quando ela te traiu com o teu melhor amigo, faz de mim as músicas que nunca mais ouviste, a casa que abandonaste, hoje eu sou. e essas palavras saim-te da boca sem pensares e queimavam as pontas dos meus dedos dos pés, devagar, fiz-me cinza, fiz-me morte. cravo as unhas num presente que nunca foi, haveria de ter sido se os teus paços não se ouvissem de tão longe, o teu corpo deita-se no sofá e eu a uns metros de ti, os pés seguram-me o corpo que balança para a frente e para trás, eu não te ouço respirar, não te vi chegar. não me sentes, não te voltas, os olhos ainda pensam nela, ainda a fotografam na carpete da sala e eu volto para a cozinha e acabo o jantar.
as palavras saiam-te da boca sem pensares, quebravam a loiça, arrastavam a toalha, enchiam a cozinha de gritos e sobre a mesa pintavam um rosto em tinta permanente. levantei-me e saí, chorava o silêncio entalado na garganta.

por: mar

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quarta-feira, 4 de junho de 2008

mãe

Alice, Alice.
Alice quem te disse que o céu é azul? Alice encosta-se ao parapeito da janela do seu mundo interior, tem o ar cansado e o rosto pintado de rugas sem cor. o tempo é seu namorado e a vida é amante do chão que ela pisa, sofre com o coração apertado pelas mãos do pecado que fazem o seu caixão. Alice é a minha mãe e o seu colo é a minha casa, Alice vive numa caixinha de música onde todas as bailarinas têm as suas pernas e é na ternura do seu olhar de água que esconde os peixes que pesca em beijos que lhe são negados. no verde do pasto Alice encontra o perfume gasto de tantos dias que a vida lhe entregou já, rasgos de pequenês, coisas que o tempo lhe fez e que ela nunca esquecerá. as mãos de Alice pariram gestos, os pés de Alice calejaram caminhos, os olhos de Alice traçaram mapas num sentido único, para a frente Alice, para a frente. Alice é triste. a doença comeu-lhe as vontades e do lado de fora da janela há melodias de um futuro que se quer crente. Alice não mente, nunca soube mentir, não acredita no futuro incerto e nunca antes o sentiu perto. chora. não chores Alice que a corrente mata os peixes dos teus olhos. eu corro à sua volta e Alice risse com o coração na boca.
oh Alice era quem te visse assim caída tão de pé quanto viva.

por: mar

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segunda-feira, 2 de junho de 2008

sexto andar

adormeceu a cidade no beiral da minha janela, cansada adormeceu agarrada ao vidro mendigando a minha presença. nós pausamos os segredos num sol sustenido no encanto contraído de gestos que há muito se esperavam e abençoamos os corpos que quietos e leves voam para além do provável. a cidade adormeceu e não testemunhou o teu regresso meu amor, quis acordá-la mas as minhas palavras faziam ricochete no vidro, caíam-me no chão do quarto como mortas e eu chorava agarrada à mudez da minha boca. dás-me a mão e ajudas-me a erguer, quando tombam as palavras tomba-se-me o corpo também. pronunciamos meia dúzia de vocábulos ressuscitados, há silêncios contraídos dentro do teu corpo, arrepias-me a pele com o toque pausado de um beijo, de outro beijo, de tantos beijos que nunca trocáramos. calo-me o vazio que há muito me preenchia de ruídos insuportáveis, calo-me tudo e rio porque nunca tinha aprendido a calar fosse o que fosse e hoje calo-me toda, só as minhas mãos gritam o meu desejo por todo o teu corpo. não vacilas. não te distancias e fazes da tua presença uma morada certa. branca, calva e clara cidade adormecida que perde o mais puro e genuíno sentimento que alguma vez vira.
batem à porta e caio do sexto andar, corpo balançado num vento de lembranças que regressam, choro baixinho para não acordar a cidade. encosto a face no tapete e espreito pela frincha da porta, vejo-te os sapatos, os típicos sapatos pretos e sei-te. ainda fico a coxear o sentimento que te tinha com medo de o ver cumprimentar-me, abro e calo-me quando os teu corpo envolve o meu no abraço, no costumeiro abraço mais interior que exterior. caio do sexto andar. tu entras e reconheces a casa como se ainda fosse tua, encostaste às minhas fotografias que se esticam pelo corredor, recortei-te de todas elas. sentaste-te no sofá da sala com a descontração do costume, pedes-me que me sente ao teu lado como se o sofá fosse teu e fosse eu a intrusa. incomodo-me. passo os olhos pelo teu casaco em jeito de reconhecimento e desaperto os atacadores de ressentimentos que calçava, olho-te a boca e cheiro-te o beijo que antes fora meu. tu apressadamente envolves o teu olhar com a minha boca e trocámos um beijo invisível. sem pronunciar uma única palavra transpiramos sentimento ressuscitado, alcanças-me e como sempre acabamos por nos amar como se nunca tivessemos deixado de o fazer. mas nunca deixamos de o fazer meu amor e caio do sexto andar.

por: mar

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