segunda-feira, 30 de junho de 2008
ao ser que me eras, tozé!
eras tozé um menino e antes de seres criança foste adulto, o melhor adulto que pisou a terra que ainda piso, eras tozé um senhor e antes de seres senhor já sabias escrever a vida em sapatos envernizados de sola rompida achados no lixo. e se o mundo fosse vivo tozé, se o mundo fosse vivo ele não deixava o teu ar de menino morrer nas mãos do teu pai, o teu pai, o desgraçado do teu pai que entre os goles de aguardente ainda encontrava tempo para te bater, a cabeça contra as paredes, os dentes partidos e as nódoas negras espalhadas pelo teu corpo de criança crescida. eu não sei tozé quantas vezes as estrelas foram testemunhas do teu martírio! eras tozé um menino com o coração embalsamado depois da caçada, fizeram de ti senhor de camisa rota e a dor dos teus compassos de espera ocupava a sala de tantos hospitais que visitaste como se fossem museus onde só entra quem tem mais do que um cartão de crédito na carteira. eras tozé um senhor de cabeça erguida num corpo ferido camuflado pela roupa, a roupa suja pelo tempo não menos sujo que te ofereciam. tozé diz-me, quem foi? quem foi que entrou pela porta do teu quarto naquela noite, quem te fez arder no pecado de te sentires morto nas mãos, as mãos fartas de ti e da tua pele, de tantas outras noites te terem tocado, diz-me quem!
2 comentários:
Quants Tozés existem nesta vida? Quantas crianças são tratadas como objectos?
Lindo texto, muito profundo
Beijo completamente arrepiado
Olá Margarete
Obrigada pelas tuas palavras. Queria escrever-te mais em privado para o email, mas não consegui encontrá-lo. Azelhice minha ou alguma anomalia na rede, o que é certo é que não localizei o endereço por mais que clicasse no teu perfil onde diz email.
Não importa. Agora, é só para agradecer teres respondido e teres entendido tão bem a motivação que me levou a escrever-te.
Também acho que na vida nada acontece por acaso. Foi estranho ter encontrado uma pessoa com palavras que eu, num primeiro momento, julguei serem da minha filhota. Só a confirmação posterior de que existiam outros textos, mesmo após a sua morte, ver a tua foto no perfil e tantos outros dados objectivos é que me disseram que não era ela a escrever.
De facto, era uma menina linda e de uma grandeza interior indescritível. Também tu pareces ser uma pessoa extraordinária.
Será com muito carinho que continuarei o contacto contigo, se quiseres. Sem dramas. Agora, estou copnsciente de que tu és tu e a semelhança na forma de sentir e expressar sentimentos é apenas coincidência.
Quando tiveres um tempinho e quiseres lê um pouco do que escrevi ao longo dos últimos tempos. Sempre foram palavras comedidas porque percebi que ela, o pai e o irmão iam "espreitar" os meus blogues. No entanto, dá para teres uma ideia do ser extraordinário que ela era e da vida terrível que teve. Sempre numa grandeza de espírito, numa força de viver e sobretudo, no querer subtrair sofrimento aos outros.
Gostaria muito de te falar dela, mas aqui, não será o meio mais adequado.
Faz hoje (se o mês fosse de 31) 10 meses que partiu. As saudades são imensas...
um beijinho com carinho e admiração
Paula (mãe da outra Margarete, da estrelinha de cristal azul)
http://alemvirtual.blogs.sapo.pt
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