quarta-feira, 29 de julho de 2009

longe vai o tempo em que pintava sonhos com a mesma facilidade com que comia as expressões mais fúteis, simples como dizer adeus ou olá ou quem sabe convidar-te para sair ou morrer. somos conceitos mudos, gritos encarcerados entre as mãos de quem pouco ou nada sabe, às vezes balançamos os pesadelos na esperança de os domar, tentamos em vão subsistir à necessidade de reatar afectos, e então subtilmente somos capazes de destruir o futuro, depressa para doer pouco, suficientemente devagar para ser prazeroso. somos escravos da amargura, tanto tu quanto eu, assistimos ao mundo como se fossemos réus, embora a culpa seja pesada. a recessão esquartejou o pouco que restava dos nossos corpos, do rosto sobrou apenas uma expressão triste, largada ao abandono de um cargueiro de faltas. longe vai o tempo em que os teus olhos serviam de casulo à minha saudade, longe vem.

por: mar

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segunda-feira, 20 de julho de 2009

sobe lenta a minha morte, do lado de fora da janela, à espera. às vezes penso que nunca existirão palavras suficientes para te matar deveras. às vezes penso que me são reveladas palavras pela primeira vez, entupidas de silêncio, elas próprias criadas da segunda costela do meu desespero. estás em retrocesso e creio ser essa a tua última morada. quero escrever-te qualquer coisa breve, qualquer coisa que não nos consuma como nos consome o tempo, ou o espaço atrás dele. delicadamente perco o rumo a esta vida, tão curta como a tua, tão vadia, que se desprende em gotas pelos poros como o orvalho de madrugada a pender nas folhas. bem te disse que fomos criados por um adeus sem acenos, somos frutos da mesma estação, estamos podres. quisera hoje roubar-me o passado e enforcá-lo na galha desta saudade, quisera hoje matá-lo, repetidamente, até o ouvir chorar o teu nome como da primeira vez. repito: sobe lenta a minha morte, do lado de fora da janela, à espera.

por: mar

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