sexta-feira, 13 de junho de 2008
isabel
isabel guarda nos olhos rasgados um meio mundo de sonhos e nas pontas espigadas dos cabelos meio mundo de realidades. isabel guarda nas dobras das rugas das mãos o silêncio em tons de músicas antigas, dessas que ainda não conheceram outra casa senão o disco vinil. a roupa é velha como as pedras da calçada por onde sempre caminha, os pés tão gastos que entre os dedos guardam a subida e a descida sempre pelo mesmo lado. isabel já não cobre de palavras as rédeas da sua pele, já desconhece as chuvas num Verão acabado de começar. o passeio é dela quando se senta e olha o céu onde o azul já tremido se encolhe na menina dos seus olhos rasgados.
isabel tem passos de caracol e um sorriso que nunca conheceu meias medidas. veste tons escuros e há muito que é viúva, viúva de queixo caído num chão de cores neutras. isabel escureceu a vida com o preto dos seus olhos rasgados e nunca conheceu ninguém que lhe conseguisse destrancar o coração. trazia pendurado no coração um contrato de arrendamento.
isabel contava meia dúzia de histórias devagarinho com a mesma destreza com que cosia os retalhos de uma vida meia estragada. gostava de pescar a vida à tarde quando o sol se escondia atrás do mar. isabel regava a aurora com as suas lágrimas.
isabel guarda nos olhos rasgados um meio mundo de sonhos e nas pontas espigadas dos cabelos meio mundo de realidades.
3 comentários:
just to give one little kiss
Auf Wiedersehen,
f n
a vida realmente , para alguns é bem difícil...
não consigo dizer mais do que isto...
Fez-me pensar de novo na minha própria vida...
deixo-te um beijo de fim de semana
a sombra por detrás das cortinas das casa aonde não pomos nem o pé direito.
dá pa um gajo pensar nas isabeis da nossa vida
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