sábado, 14 de junho de 2008
leonor.
quem contou a leonor que o seu pai já lhe morrera?
quem lhe contou não sabia o mal que lhe fizera.
leonor o amor não acha.
leonor tem sete cravos espetados no coração, tem buracos cavados na palma da sua mão, morrem-lhe os cabelos presos num passado que já fora seu. leonor tem pele calma de uma quietude tal que enfrenta a maré alta com destreza desigual. ela não se ri do povo. ela nunca soube rir. leonor sorri de novo às dores que a fazem cair.
onde vais ó leonor com os cabelos molhados? não procures mais o amor quem o procura não acha.onde vais ó leonor com os pés ainda descalços? olha que eu gosto de ti.
leonor o amor não acha.
leonor nunca soube de que cores pintar o mundo, o pincel do seu olhar é feito de pinceladas escuras e no fundo dos seus olhos leonor esconde vidas, nas costas da sua mão leonor descobre feridas. leonor tem passos lentos, cambaleia o seu corpo como quem aprende a andar. leonor tem contratempos numa música esquecida que nunca se há-de tocar. leonor senta-se à mesa com as pernas cruzadas e fala devagarinho palavras já preparadas, leonor vive sozinha numa pequena casa onde o tempo se esconde debaixo da carpete. onde vais ó leonor com o corpo assim curvado? não sabes que eu te espero com o amor a meu lado. onde vais ó leonor com lágrimas no olhar?
leonor o amor não acha.
quem contou a leonor que o seu pai já lhe morrera?
quem lhe contou não sabia o mal que lhe fizera.
3 comentários:
Leonor, Isabel, e tantos outros(as), o pó de todos os dias, as solas gastas do andar da vida. Descreves Vidas e vivências.
A tua escrita é antes de mais uma homenagem, um quadro pintado a palavras, sem pincel, mas com uma arte e sentir muito grandes.
Parabéns!
olá querida, todas as palavras escritas são momentos que a garganta não quer falar, por isso vindas dos teus dedos são magia.
nessa magia define-se uma tristeza ou uma alegria... eu prefiro a segunda!
beijo...
Concordo plenamente com o Jorge,
de ti as palavras são dedilhares intensos, no tempo, sem tempo....
bj
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