sexta-feira, 10 de abril de 2009
entre os rostos procuro o teu, deserto. todas as flores silvestres gostam de calor: penso, enquanto desenho a tua face sobre o balcão. quero um gole e o fumo de um cigarro, um gentil, que não arda nos olhos. quero o paraíso e uma virgem extra como o azeite, quero um pedaço de caminho e um traço contínuo, não gosto de ser ultrapassado. tu és o traço, o traço leve, súbtil no impacto do lápis sobre a toalha, és esta delicadeza de me saber a habitar o prelúdio e ainda assim empurrar-me à inquietação. na perpendicular do meu olho esquerdo um casal divide um gelado, uma metade, tudo é às metades no amor. e, sob o olhar atento da plateia, ele segura-lhe a mão entre a sua, direita, e segreda-lhe ao ouvido qualquer coisa irremediável, qualquer coisa que serve para a vida inteira, qualquer que dura a eternidade de algumas metades. quero gritar-lhe: foge, mas morre-me a palavra na garganta, como um vómito à espera, pronto. e já nada me incomoda, nada já percepciono, a não ser a costura da toalha onde me sorri o teu rosto, aberto, à espera que lhe entre pela boca e lhe morra algures no peito, entre as costelas, num membro que não ouso citar. quero apenas não lembrar-te tantas vezes, nem tantas vezes ter esta vontade de te segurar a mão e segredar-te ao ouvido qualquer coisa irremediável e para sempre. mas o sempre é tão longe meu amor, o sempre é tão longe e eu sou tão perto.
2 comentários:
pk o amor ´já é algo irremediável.
algo que nem sempre é alcançavel, mas quando o é, dif´ficil de lhe fugir.
gostei, como sempre...
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olá mar, um texto poético com uma sensibilidade extra: ao mar em cada palavra.
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