sexta-feira, 2 de maio de 2008

Ardina de Vidas


* foto de Luís Belo;


Distribuiste as notícias tristes como próximos episódios de uma novela,
um folhetim de anúncios vespertinos.

Apregoas o tempo com as mãos carregadas,
a rua está triste hoje, o nevoeiro encolhe-se ao redor de todos os corpos.

Que faço eu da vida? Que fazes tu da tua?
Valoriza-me porque eu também sou uma notícia triste!


Esperei que chegasses com as mãos carregadas de jornais, primeiro encostaste-te à parede daquela casa e com uma mão segurando as costas pousaste o teu material de trabalho no chão e com um sorriso nos lábios olhaste o céu carregado. Soube então que gostavas da chuva tanto como eu. Depois ergueste os jornais, colocaste-os no teu saco de cabedal castanho e foste conversando com este e com aquele sobre a actualidade que acreditavas ser possível.

O teu saco de notícias tristes mal aguentava o peso das lágrimas.

Eu apaixonei-me por ti como me apaixonei pela chuva
num dia em que a senti impregnar-se no meu corpo.

Lavei a minha cara com as lágrimas, sentei-me no chão que tinhas pisado e olhei a chuva que caía na diagonal dos corpos, miúda, dessas que te entram pela pele e te molham toda, por dentro, por fora, como se fosse possível amansar o sal das lágrimas com a água doce das chuvas.

Disfarço-te de ardina e tenho a certeza que te dás conta,
na verdade eu só queria ver-te,
só queria olhar-te com as lágrimas nos olhos.

A verdade é que não precisas de disfarce, és um ardina de vidas e isso faz de ti eterno.

Os teus sapatos não te cabem nos pés, caminhas com um passo desajeitado e ás costas levas uma árvore repleta de sonhos maduros, prontos a serem colhidos. Sentaste na praça, atrás de ti um carrossel que gira sem parar, enroscaste em notícias tristes e recortas-lhe palavras, colas tudo no chão e inventas a tua primeira notícia feliz.




por: mar


3 comentários:

Blogger Jorge Vieira Cardoso escreveu...

estes quatro temas que aqui comento, são pretos no branco das páginas de um jornal, do qual eu costumo tirar as minhas ilações.
dessa maneira faço-me ardina dessas páginas para te sentir nos pingos de chuva, que são as tuas letras pigmentadas de 30 de Abril a 1 de Maio...

foi muito boa toda esta visita ao teu Blog!

beijo carinhoso...

2 de maio de 2008 às 15:50 
Blogger João Vasco escreveu...

As notícias de nossa vida vestem-se do nosso sentir. Reais ou ficção, fazem parte do jornal que somos.

Bj terno

2 de maio de 2008 às 23:01 
Anonymous Anónimo escreveu...

Uma bela homenagem aos ardinas.

Parabéns. É sempre bom ler-te.

Bjs

3 de maio de 2008 às 15:15 

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