segunda-feira, 12 de maio de 2008

Ele escreve direito por linhas tortas...

Acordou!
Agitou os braços no ar.
Levantou-se!
Os chinelos não estavam no sitio mas nem reparou.
Caminhou até à casa-de-banho.

Ele chorava agarrado a nada com os chinelos ensanguentados, ele gemia, ele sofria, ele doía e saía de si para se ver no espelho. Ele não era! Ele nada. Ele tudo. Ele nem mais nem menos. Sofrido e dorido continuava abraçado a nada com as mãos quietas, mudas, paradas, seladas em gestos que nunca se davam.

Lavou a cara, respirou fundo,
lavou os dentes,
as olheiras não se conseguiam disfarçar.
Deu dois passos e tropeçou nela.


Não tinha reparado que ela se tinha levantado já, não tinha reparado em nada, imbecil, inútil, pensava em si e no quanto não a amava enquanto chorava agarrado a nada com os chinelos ensaguentados. Ele ali não era, ele nada, ele tudo, ele nem mais nem menos e ele ficava ali assim ficava sozinho chorava com os chinelos ensaguentados.

Ela levantou-se de uma noite não dormida,
caminhou decidida até à casa de banho,
sem o gosto da vida na boca, tomou uma caixa de tranquilizantes.
Ficou tonta, agarrou-se à cortina enquanto caía,
a cortina rasgou, o marido não ouviu e ela ficou agarrada ao seu corpo
enquanto uma nódoa de sangue começava a formar-se debaixo da cabeça.


Deitou-se!
Agitou os braços no ar.
Adormeceu!
Os chinelos repousavam aos pés da cama.
Ela caminhou até à casa de banho.

por: mar


4 comentários:

Blogger Pedra Filosofal escreveu...

Sentido. Sofrido. Dorido. Este texto escorreu-te dos dedos e foste sentindo tudo, como se de ti se tratasse. E eu, que o li, sofri como se fosse eu

12 de maio de 2008 às 22:31 
Blogger Carlos escreveu...

Sabes?
Senti um misto de dôr, de angústia, de solidão.
Envolvi-me , no cenário, como se fosse uma personagem de Scorcese.


beijo

13 de maio de 2008 às 09:05 
Anonymous Anónimo escreveu...

Fiquei parado ao ler este teu texto.
Não apenas parado, mas sobretudo atónito com a clareza que ele denota.

Que mais posso dizer?
É sofrido, percebe-se bem...

13 de maio de 2008 às 14:30 
Blogger Jorge Vieira Cardoso escreveu...

quando o tudo ou o nada dormem juntos,quase sempre vence o nada!

porque será?

a minha resposta é, não há dialgo!!!
Bjos...

13 de maio de 2008 às 21:56 

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