quinta-feira, 29 de maio de 2008

silêncio em pé de lã

e tudo já parece tão incrivelmente comum, a normalidade entrenha-se em nós como os anos na pele, tudo parece passar de forma tão natural que entendemos o tempo como um albergue nocturno. e é esta espera, este quase ser que, este estar entre e estar quase, é isto que nos faz viver e se não tivessemos esta forma tão unilateral de sermos morriamos. hoje passeavas triste pelas ruas que nos conheceram as mãos dadas e eu vi-te do outro lado da janela, a chuva molhava-te as pegadas e incomodava-te o jeito ligeiro de andar, os teus olhos perdidos no que havia sido nosso passeavam de mãos atadas às recordações duradouras e vitalícias que conscientemente tinhas. eu não te disse nada, a minha mão segurava ligeiramente a cortina e pela frincha eu ainda consegui ver-te chorar baixinho esperando que a tua dor não incomodasse a dor dos outros, daqueles que não passam. eu não quis estar longe mas quando o barco se afundou nadei rumo a outra praia, não tenho culpa da corrente me ter trazido para aqui, longe. os teus sapatos estavam gastos, lembro-me do dia em que os compraste, sacudiste a carteira, contaste as moedas e com um sorriso no rosto entraste, eu segui-te à distância de dois passos, detesto sapatarias, não experimentaste os sapatos assim como nunca experimentas nada na tua vida, ficam-te bem o raio dos sapatos, apesar de já gastos como o amor que ainda me tens. escondi-me entre a parede e as cortinas e chorei devagarinho, baixinho para te não incomodar as lágrimas, o amor é isso mesmo, chorei mais baixinho ainda até silenciar por completo toda a minha dor, sempre fui um silenciado. ao fundo do corredor o meu gato miava e tu? tu afastavas-te devagar, cruzaste a rua e olhaste para trás, viste-me e sorriste, o meu gato miava e eu como não sei miar não lhe respondia. silenciei-me.

por: mar


3 comentários:

Blogger Jorge Vieira Cardoso escreveu...

Nos momentos em que os nossos silêncios derramam lágrimas ou sorrisos. Confere-me só este espaço em que a página branca é tingida de letra negra cor de azeitona, ou que o fundo negro é clareado pela letra branca cor de neve.
Preto no branco, branco no preto, em que o mar é mar e a terra é terra! Se assim não fosse seria irreal!
Irreal e porque não? Meias verdades também são consentidas, numa ficção que apanhará alguém na sua realidade.
[Objectivo da escrita não se compadece de um único ser]! É abrangente, destaca o poder de nós de utilizarmos as coisas, a natureza e os outros como “joguetes” jogados nos dados na nossa pintura de tela Mundo…
Não leves a mal Margarete, isto são só palavras de um amigo que vê em ti potencial para ires mais além e se me tens como amigo faz isso por favor!!!

bjs...

29 de maio de 2008 às 18:59 
Blogger Patrícia escreveu...

Gostei bastante ! Parabéns!

30 de maio de 2008 às 22:49 
Anonymous Anónimo escreveu...

A tua casa é um porto de abrigo, onde venho para me sentir vivo, onde me delicio com a tua sensibilidade, com a tua escrita, com a forma como me transportas para um mundo diferente, um mundo igual a tantos outros mundos.
Obrigado pelo abrigo.
*
Um abraço!

1 de junho de 2008 às 22:07 

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