segunda-feira, 18 de agosto de 2008

o meu corpo é uma casa morta

é inverno na casa. a chuva que hoje não deveria cair entranhou-se nas paredes e comeu-lhe o branco, encardidas pelo tempo são hoje negras como a noite que se fez inquilina dos móveis, toda a sala é de uma tristeza calada, quem se senta deixa-se estar e morre com o sofá colado a um chão que nunca o soube ser.
a tarde magoa os ponteiros de um relógio parado e no beiral da janela morreu um pássaro. morreu só. o pássaro tem os olhos arregalados e há um cheiro a pólvora queimada que lhe sai pelo peito. é tarde, demasiado tarde para aqui haver vida.
a tarde cai sobre o horizonte manchado de nuvens escuras, na pressa de um levantar cortam-se os tendões ao meio e há uma dor entre o pé e a perna, uma dor que me mata e deita o corpo sobre o chão da casa, devagar. a tarde deita o meu coração morto na cozinha e estica os meus braços pelo hall da entrada, o meu pé esquerdo no sótão e o direito fechado na cave.

o meu corpo é uma casa morta.

por: mar


0 comentários:

Enviar um comentário

< home










mar


sobre este mar:

estrelas do mar
maré cheia
um mar de fotos
lugares do mar


arquivo:

março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
setembro 2008
outubro 2008
novembro 2008
dezembro 2008
janeiro 2009
fevereiro 2009
março 2009
abril 2009
maio 2009
junho 2009
julho 2009
agosto 2009
setembro 2009
novembro 2009
dezembro 2009
janeiro 2010
fevereiro 2010
março 2010
junho 2010