domingo, 7 de setembro de 2008

desamor

o amor é bonito como um campo de tulipas a apodrecer num qualquer país baixo, o amor é bonito até ser feio. o amor é um quadro pintado na parede de uma casa, um quadro onde duas pessoas se amam até morrer ou, pelos menos, até uma delas comprar outro balde de tinta. é um par de sapatos debaixo da cama e quatro pés fora dos lençóis. o amor são duas chaves iguais em bolsos diferentes, duas alianças escolhidas na ourivesaria mais barata e pagas em prestações. o amor é bonito. o amor é a escolha partilhada da mesma dentadura até que ela apareça cheia de saliva num copo em cima da mesinha de cabeceira. uma camisa engomada e uma dor de costas. o amor é o comando avariado outra vez e uma conta da luz que supera o ordenado. ainda assim o amor é bonito. o amor é bonito como o caudal de um rio a comer a terra. o amor é um par de cortinas comprado nos chineses. o amor é um conjunto de desculpas e atrasos. o amor é bonito como a roupa arrumada no guarda-vestidos até tropeçarmos num par de meias. o amor é bonito como umas cuecas sujas a entupir a banheira. o amor é uma tarde inteira à procura da casa certa para acabar por escolher a mais barata. é um ramo de verdes onde se esconde uma rosa, é um perfume que mais parece uma amostra. amor é uma merda porque todas as coisas que são bonitas têm o condão de nos deixar na merda. e porque tudo o que é bonito leva-nos à merda, o amor é uma merda ainda maior que a vida. o amor é bonito porque somos feios, o amor é grande porque somos pequenos.  

por: mar


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