quinta-feira, 18 de setembro de 2008

a minha rua bate-te à porta

é assim que te vejo, sentado perto da janela com um cigarro entre os dedos da mão esquerda enquanto a direita segura uma caneta, um cão late ao fundo da rua que é estreita como as tuas mãos. o fumo do cigarro confunde-se com o fumo de um incêndio cerebral que ninguém extingue e no madrugar dos meus passos sobre a rua ouve-se o peso dos teus, em redor do quarto que é a tua casa. a tua casa tem paredes murchas como as flores do canteiro no jardim em frente, às vezes choram como as crianças dos teus vizinhos e o tecto, que abafa os sentimentos com traços de humidade aqui e ali, às vezes morre-te nas retinas dos olhos que escancarados o tomam como família. há pardais a abeirarem-se da tua janela e a madrugada abafa o teu silêncio de mansinho, quando te dás conta é manhã e a cidade berra-te na buzina dos carros parados no semáforo ao fundo da rua, a rua que é tua e é estreita como as tuas mãos. o teu corpo balança-se contra o tempo parado num relógio que a parede desleixada segura a custo, as horas são pesadas meu amor e o tempo que tens não chega para que te não sintas só. e eu fico a ver-te deitar sobre a cama que é feita de palavras monocórdicas e textos escritos á mão. amanheces-me no peito que é rua estreita com carros parados no semáforo a buzinar.

por: mar


1 comentários:

Blogger Richy escreveu...

Adorei, claro.
Apesar das constantes trocas de significados e associassões, nunca me perco nos teus textos.
Beijos.

18 de setembro de 2008 às 13:28 

Enviar um comentário

< home










mar


sobre este mar:

estrelas do mar
maré cheia
um mar de fotos
lugares do mar


arquivo:

março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
setembro 2008
outubro 2008
novembro 2008
dezembro 2008
janeiro 2009
fevereiro 2009
março 2009
abril 2009
maio 2009
junho 2009
julho 2009
agosto 2009
setembro 2009
novembro 2009
dezembro 2009
janeiro 2010
fevereiro 2010
março 2010
junho 2010