quarta-feira, 3 de setembro de 2008

morro enquanto chove

morro enquanto chove. a cama dobra-se com o peso do meu corpo, a prateleira, que não pode chorar por ser um objecto, deixa cair os livros, um por um, devagar. há um piano a estalar notas musicais ao canto e um caderno pintado de letras a dançar com um vestido preto. é dia de funeral e os teus sapatos são de verniz, a senhora que é tua mãe não espera na porta que os convidados cheguem, o bar está aberto e não há consumo obrigatório, há um homem, cuja barriga é feita de plástico, que limpa o nariz a um pano com umas letras bordadas. o cheiro a alecrim joga sueca dentro das minhas narinas, há quem parta copos contra paredes, há quem chore e entorne água que dava para matar a sede a milhares de pessoas, há quem se resigne, há quem acene longamente com a cabeça a cair do pescoço, eu morro enquanto chove. as tapeçarias finas penduradas na parede da casa servem de consolo a muitos olhos, a senhora que é tua mãe abraça as pessoas sempre pelo mesmo lado, na mesa sobram alguns restos de biscoito queimado e umas garrafas de vinho do porto, o bar encerra para obras e a casa não sobrevive ao peso de tanta chuva. é preciso um andaime para chegar ao tecto e mudar a lâmpada, aqui a escuridão tem o cerco fechado.

por: mar


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