terça-feira, 2 de setembro de 2008

self-service

não vale a pena. penso. 
à noite todos os pensamentos são legítimos, mesmo os mais sombrios. o quarto morde-me o corpo, há uma janela ao fundo mas não consigo alcançá-la, é tarde e os dedos tremem-me. os olhos choram e não me sinto chorar, a decadência. a decadência e o desânimo, finalmente sinto-me humano. cair da cama é hoje como cair do sétimo andar do prédio abandonado no final da rua. espera. há uma rua que se cruza com a minha, há um semáforo e há um velho a segurar um violão enquanto finge ser o caetano veloso. não. ainda o quarto e os papéis espalhados no chão, uma seringa e se este embaciar de olhos não me engana, há uma colher e um pedaço de prata. 
estou drogado. 
levanto um braço e a minha carne flácida estatela-se contra o colchão, o colchão tem umas flores pintadas e segura uma cama que é chão de betão armado. a minha boca é saliva a cair. o barulho é ensurdecedor e eu só espero que haja alguém capaz de travar a fundo agora. não consigo mexer os dedos e a minha mão está presa a um corpo débil. fecho os olhos e descubro uma coceira na pele. socorro. socorro. e o meu corpo é uma colisão de dois carros enquanto o velho sorri. 
não vale a pena. penso. de repente tudo faz sentido e o corpo que me escreve não imagina a overdose que habita o seu cérebro.

por: mar


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