segunda-feira, 6 de outubro de 2008
amor inoportuno
um dia pela tardinha desceu a rua pelo lado da casa dela, viu-a do lado de dentro com o avental vestido a pôr a mesa e ficou ali, esfriou com a noite a cair-lhe pelo corpo, a imagem dela assim vestida dava-lhe mais vontade de a convidar para sair, quem sabe casar. ele gosta dela mas nunca lho disse, fica ali, à socapa, especado na rua, às vezes encostado ao poste de alta tensão à espera que ela se chegue à janela para lhe conhecer melhor os contornos. e até tarde ouve-se a música da solidão, a rua é triste com os olhos dele a perderem-se na luz apagada no quarto da casa, ele foge então com o rabo entre as pernas, desce a rua pelo outro lado com a cara inclinada para o chão, mas o que ele não sabe é que do lado de dentro das cortinas ela adormece com a cara contra o vidro, à espera que ele a convide para fugir.
1 comentários:
Adoro a brutalidade da tua escrita.
Atrevo-me a dizer-te nas palavras que há muito tempo não entrava em mim de forma tão desmedida a escrita de alguém.
Alguém assim que o teu assim é.
Se o amor fosse somente leitura, aqui te digo: amo-te!
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