segunda-feira, 27 de outubro de 2008

bateu a porta atrás de si na noite alta, ao fundo da rua esperavam dois homens. de dentro para fora é mais fácil esperar. ela correu para os braços da mãe e antes de dizer mãe já chorava, depois os braços pequenos enrudilharam-se na cintura baixa de uma mãe alta, o abandono, a entrega. eram 23h e a rua estava deserta, no carro dois homens trincavam a cauda à noite. o nevoeiro comia os barcos. sentou-se com ela à porta do porão, contou-lhe uma história que metia uma mãe sem dinheiro, uma filha doente, a menina, pequena como os dias, atirava pedras à àgua. chamo-me amélia. ela entrou no carro e as suas mãos afogaram-se em dois corpos, dois menos um igual a três. era um adeus mas nenhuma das duas sabia, a menina correu sobre o pontão e foi sentar-se com os pés dentro de água, a mãe ao longe com as mãos agarrava a cabeça. ouviu-se um barulho na noite que cortava o mato à borda da estrada, amélia chorava. amélia corria e um corpo pequeno era engolido pelas ondas que iam mais depressa do que vinham.
19 de setembro de 1987.

por: mar


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