sexta-feira, 31 de outubro de 2008
é da pele do teu peito que se fazem as mãos da distância. o coração, esse membro deslocado, dependurado, a cair-te, estica-se por todo o teu corpo, estende-se-te nas pontas dos dedos e dói-te. a noite come as estrelas e uiva alguns receios escritos à pressa, a letra desfigurada, no papel rasurado que te serve de consolo. se a noite fosse só noite, pensas, enquanto se abrem as janelas dos teus olhos e as pestanas te caem no colo de enfermo. onde estás ninguém sabe e dos teus passos não saem pegadas, não há rasto que te conduza, és sozinho. ao longo dos anos, todos os novembros são-te conhecidos, pequenos nos seus trinta dias e trinta noites de pesares profundos, à chuva trauteias canções do teu tempo, letras decoradas como as cartas que guardas na terceira gaveta do armário da sala. nasces. depois da curva dos gestos, podres sobre as mãos, há um acidente, um instante dormente como os dedos dos pés e é parado que cambaleias as ausencias de que és feito. se um dia morresses, atravessasses a sala a passo lento e escancarasses os olhos para o chão. o gesso cobre-te o corpo encurilhado com a pele ao fundo da poltrona, estás doente, dorido até aos ossos, preso. talvez se estivessemos em outubro o teu corpo tivesse salvação.
2 comentários:
Mar,
Continuas a escrever de forma sábia e profunda. Tudo tem um conteúdo. Gosto imenso.
Anda uma carta da Tânia Mara Camargo no Luso-Poemas, a ti dirigida, que penso...devias ler.
Beijinhos e continua a oferecer-nos teus exímios e belos textos.
AntónioM.R.Martins
Olá
Claro que me lembro de ti.
quem escreve assim com tanta garra e sentir, não se esquece fácilmente.
Gosto de vir aqui .
Deixo-te um beijo e um sorriso
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