quinta-feira, 16 de outubro de 2008
dedicatória: no verso do livro
sempre me soube desconhecido. do outro lado do bolso, da parte de dentro, abriu-se a ferida, o buraco vazio do que nunca tive, ouviu-se de dentro de mim o desespero mas esse não te permitiu parar de me olhar, parar de falar todas as coisas num alarme que dura séculos no relógio de parede. rangeu a madeira do soalho por debaixo dos pés e os teus passos foram para longe, do corredor para diante é impossível ouvir-te, a voz de dentro entre os dedos das mãos que me tentam abraçar em vão. choro. nunca soube receber um abraço e em dias como hoje é-me difícil acreditar no que quer seja, por muito que isso seja importante para mim. é entre os cigarros e a escuridão que me descubro, a aparição do que sou num espelho que poderiam ser os teus olhos se eu não os tivesse enviado para os fundos da casa. é tão difícil voltar atrás, arranhar o corredor com os pés e ir ao teu encontro, que me dói agora tudo o que não faço, tudo o que não digo ainda que isso seja suficiente para mim sei que não o é para ti. quero envelhecer contigo e aprender com o tempo a abraçar-te e a ter-te perto mesmo que vestida de noite. a minha noite não tem estrelas e o meu mar não tem sal. é de lágrimas que me reconstruo nesta casa abandonada ao fundo da rua estreita, está frio. daqui não se vê o convéns do barco, os sinos da igreja, de onde estou só se vê o abismo a arrastar-se pelo meu peito adentro, a cair-me no coração. tenho um buraco aberto por dentro do bolso, falta de sonhos, falta de ti talvez matilde, falta de um abraço. um rosto desabitado num mundo podre.
para ti.
1 comentários:
Mais um com tanto, tanto...
E eu ponto final.
Gostaria de saber o que o teu olhar diz das minhas palavras...lá...principalmente, o que devo melhorar.
É-me importante a opinião da vossa essência, se assim o entenderes.
Abraço
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