terça-feira, 28 de outubro de 2008

é depressa que corres, as horas comem-te o pulso esquerdo e a vida passa por ti agarrada às patas daquela cadela esfomeada, a virar o lixo do outro lado do passeio. se a noite fosse mais comprida não te cabia no bolso roto das calças. são horas de dormir e a puta esvazia o maço de tabaco. lá atrás, onde o dia ainda sabia a dia e a noite não durava mais de oito horas, havia uma criança a saltar no parque, a mãe olhava-a de longe não descuidando o zelo e as outras crianças brincavam ao lado dela com as suas mães. as tardes eram bem passadas amélia, as horas arranhavam os joelhos sempre que caías e caías tantas vezes que já não havia pele sem cicatrizes. é depressa que corres com uma grade de cervejas no estomago e uns movimentos cambaleantes nas pernas, tortas pelo excesso de alcool no sangue. e de novo a puta à espera ao fundo da rua, com os seus olhos verdes a servir de semáforo aos trabalhadores independentes. tu esperas por ela, a tua mãe amélia, esperas com a garrafa de vodka entre as pernas, é demasiado tarde para se ser criança e cair do baloiço. tu alcanças a puta e desapertas a berguilha, é hora, pensas enquanto vomitas algumas técnicas de engate. a tarde cai por detrás dos prédios ao teu lado, ergueste e foges para os braços da tua mãe, ela leva-te ao colo rua abaixo até o parque desaparecer na linha do horizonte. era uma vez uma puta com cicatrizes nos joelhos. 

por: mar


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