sexta-feira, 24 de outubro de 2008
ela sentou-se à porta com os gatos. quando ele desceu a rua ergueu-se dentro de peito uma espécie de mágoa, algo que foi crescendo com a idade, então nas pernas doeram-lhe os ossos por dentro da pele, rasgavam os tendões, alojavam-se à superfície. ela e ossos levantaram-se, ajeitaram o xaile ao corpo frio e com a bengala na mão continuaram o seu caminho, dois passos à frente dos dele com os gatos. ele às vezes sorria mas hoje não lhe apetecia e com o peito cheio de memórias vindas de longe espreitou-lhe as costas, ligeiramente dobradas sobre o peso dos dias, sentiu-lhe a cal dos cabelos em queda livre sobre a calçada da rua. a velhice magoa. doía-lhe o coração mas não sabia de que lado e por isso chorava. os gatos interromperam o percurso a meio da rua, do outro lado algumas palavras pararam os ossos dela, algum calor a romper o gelo que cobria a pele. ela falou, devagar, alguns gestos mortos nas mãos há anos enquanto ele, um pouco mais atrás, ajeitava o casaco e fazia tempo. quem diria que o amor fosse um sítio à distância de alguns passos impossíveis de dar.
2 comentários:
Já te disse uma vez...chamaste-me exagerada! direi quantas vezes até que me oiças! A tua forma de escrever é muito original.adoro ler-te.perfeita na forma, excelente no conteúdo.....já agora dir-te-ei de novo...ouves-me? reconhecer-te-ia entre mil
Beijo azul...Sempre!
vou linkar-te nos meus blogs! beijinhos...fica! Ficas? :0))**
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