segunda-feira, 13 de outubro de 2008

a morta

a porta da casa era feita da madeira de um carvalho velho como os anos que as pedras das paredes tinham, as heras teimavam teias em cada frincha e a fechadura perra deixava a porta entreaberta até se ver, do alto da sala, sentada na velha poltrona, a senhora. a senhora trazia um vestido no corpo, tingido de noite sem estrelas, as suas mãos eram ossos colados uns aos outros, a carne que ainda lhe sobrava em pedaços espalhados aqui ou ali era branca como a cal das paredes da casa, agora tracejada pela humidade. a senhora não falou a tarde toda enquanto os ratos lhe mordiam as pontas dos dedos dos pés e alguns pássaros faziam dos seus cabelos um ninho, no decote da senhora descansava agora um enxame de abelhas e o cigarro, ou que dele sobrara, jazia intacto entre o seu indicador e polegar.o garçon serviu o chá às cinco da tarde e às cinco da tarde tocaram os sinos dentro do peito do homem sentado do outro lado da mesa, o garçon repousa o casaco no bengaleiro e sai, o passo desnorteado pela vingança que se serve mais fria que o chá no bule agora cheio de formigas. eram cinco e um quarto na casa por detrás do cemitério, as garças levantaram voo no topo da velha capela, deram a volta ao parque e aterraram do outro lado do rio, ouviu-se um tiro e o cheiro a pólvora espalhou-se pelas campas onde fantasmas apostavam sustos e medos.

por: mar


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