sábado, 25 de outubro de 2008
à noite o bosque aquece algumas memórias e as corujas voam árvores adentro, pousam-te nos ombros de rio surdo e ficam ali toda a madrugada aberta sobre as folhas, caindo pela manhã. à noite pesam-te algumas lembranças nos olhos e as pupilas soltam o sal de algumas lágrimas pesadas. na noite dos meus dias ergue-se a voz, alta como o cantar da sibíla sobre o monte ao longe, no alto, da noite que te sucumbe. abriste os olhos à noite que te entrava pela janela, ficaste a beber algumas memórias. os olhos dela, escancarados sobre os teus, molhados, feridos como os lábios cosidos, fechados, queimados a ferro e fogo. ficaste. nas costas das mãos carregavas os carinhos que não lhe deste, a vida presa nas pontas dos dedos mortos no braço esquecido no corpo adormecido na casa perdida no monte. à noite os teus segredos vêm à tona do coração e dói, tudo dói e arde nas vísceras, a ferida espalha-se pelo sangue e é crónica como a infância que não tiveste. choras, ainda que o choro te não traga o que perdeste. despes do corpo o gelo que te ocupa os lugares da pele e habitas uma tristeza que despe sentimentos. ela abre a porta e entra com o coração seguro nas mãos abertas em concha. à noite.
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