sexta-feira, 17 de outubro de 2008

se me fizesses o favor de voltar...

é inverno e as horas descansam aos meus pés, aninhadas à lareira, passam, a tarde, a noite a vir, a madrugada e as horas a secar-me na pele dos pés, enrugadas as horas, tristes como a velhice que mata os movimentos. se ao menos fosses tu as horas ou a noite por elas, se ao menos tu te aninhasses no meu colo e ambos vissemos as horas passar sem pressa, a adormecer as tardes de inverno num abraço, se ao menos sangrasse uma dor qualquer nos olhos e morresse aqui, agora, em frente à lareira. penso. era tarde nos teus olhos que habitavam a escumalha de dores que te comia, que te brindava já noite alta nos bares do costume com uma cachaça qualquer e, ainda assim, havia uma lâmpada pendurada no tecto, a cair-te na cara, a luz. quando nos encontramos com a velhice falar alto perturba os tímpanos. em sussurro te digo agora, se voltasses, se me fizesses o favor de voltar, eu juro-te que não morria, assim sozinho, aqui, difícil é não desejar morrer. o tempo chega incerto nas costas dos lenhadores, o bosque geme, grita as montanhas todas recostadas no horizonte e a madeira contorce-se nos troncos dos pinheiros. há uma chuva miúda a entrenhar-se no esqueleto dos corpos, dos troncos, do bosque no mundo a apodrecer-te nas mãos.

por: mar


0 comentários:

Enviar um comentário

< home










mar


sobre este mar:

estrelas do mar
maré cheia
um mar de fotos
lugares do mar


arquivo:

março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
setembro 2008
outubro 2008
novembro 2008
dezembro 2008
janeiro 2009
fevereiro 2009
março 2009
abril 2009
maio 2009
junho 2009
julho 2009
agosto 2009
setembro 2009
novembro 2009
dezembro 2009
janeiro 2010
fevereiro 2010
março 2010
junho 2010