terça-feira, 28 de outubro de 2008
tinhas chegado tarde e a chuva estava a acabar o dia, tiraste o casaco ainda a rua ia a meio e meteste na cabeça que querias ser amado, quando a viste julgaste que seria perfeita para partilhar uma cama, a casa nunca partilhas. em tempos de chuva sabe bem recostares-te no sofá e alimentar algumas memórias, ter o papo cheio de nostalgias, a cevada na caneca entre as mãos presa como o pardal na gaiola, fechas os olhos e voltas atrás, quando o dia durava o tempo de um abraço. as mãos dela em volta do teu corpo e o tempo parado na humidade das paredes, eras feliz e nem o sabias. é outubro nos teus olhos tristes a descer a rua pelo lado mais frio. podia ser domingo, pensas. vê-la sair ao fim da tarde com a casa às costas e alguns medos entreabertos nas palmas das mãos e depois deixar cair o corpo sobre o soalho, feito de madeira, envernizado pelo pó de tantas faltas sucessivas. ficar murcho como a flor na jarra da mesa da sala, apodrecido como as maçãs da fruteira, só. é de recordações que se alimentam as horas nos ponteiros do relógio, a marca de todas as esperas no enterro de uma certa saudade. podia ser ela, pensas. a sombra atravessa o pátio e vem sentar-se à margem do teu corpo, fala-te da manhã com os olhos na copa das árvores. a rua adormece e tu calas alguns silêncios como quem abandona o corpo para morrer longe. podia ser domingo, hoje, podia ser ela, choras.
1 comentários:
É sempre muito bom ler-te.
Pelo facto de não comentar, isso não quer dizer que não visite a tua casa aberta, muito menos implica esquecimento.
Já agora, continuas no teu jeito muito igual de expressar vivências, sentimentos, emoções e um mundo que te é muito peculiar, o teu.
1 beijo.
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