quarta-feira, 19 de novembro de 2008
descemos a rua com o vagar do costume, páras para ajeitar os pés nas sandálias e eu para me ver as feições na montra de uma qualquer loja. somos bonitos. tu dás-me a mão e lá vamos, rua abaixo, com os óculos de sol postos. é assim que te vejo ainda, o vestido em tons de azul, florido, o chapéu de palha abandonado à força do polegar e do indicador na tua mão direita com a fita a roçar o chão, os teus passos curtos, maneados, os olhos azuis escondidos e a boca cerrada em sussurros numa cantilena familiar. lá em baixo espera-nos a praia, coberta de turistas, amealhada entre as gorjetas dos garçons no bar. sempre gostaste da praia, a areia miúda a esvoaçar-te nas pernas a cada brisa, o cheiro a sal a mordiscar-te as narinas, a toalha presa num ou outro sulco, o livro entre as mãos seguro para não lhe fugir as páginas. sempre gostaste disto e é por isso que aqui estamos, sentados frente ao mar, enternecidos com o bater das ondas, umas nas outras, enrolando-se até morrer na praia feita de areia branca, fina. devagar estendes-me a mão e puxas-me para mais perto, encostados, de mãos dadas, contamos as voltas que dá o papagaio atado por uma linha ao pulso de uma criança. somos felizes.
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