quinta-feira, 13 de novembro de 2008
é já de longe que me chegam as vozes, quietas em alfama, caladas em lisboa, a entornar a saliva pelos cantos da boca, a avançar passo a passo, pé ante pé, nas intermitências de algum silêncio. hoje penso, e quero que comigo pense quem achar por bem, na vida, a triste e ínfima vida, a coçar as feridas dos outros, como se dos outros não fosse feita. passado algum tempo, já tarde, com o sol posto atrás da humanidade, haverão mãos a acenar aos navios, adeus que se faz tarde, adeus que se faz cedo, adeus, para sempre adeus que antes de serem navios foram tábuas, as mesmas que me constroem o caixão. adeus lisboa, adeus alfama. e hoje, depois de muito tempo a sentir isto tudo, resolvo enfim deitar-me ao tejo, não por ti, que tu não mereces que o faça, mas por mim, porque me sinto tão atado e preso a mim que não consigo ser-me na totalidade. adeus maria, adeus. não maria, não adianta, eu sei que sentes muito, não sintas, faz-me o favor de não sentires nada como até aqui, assim a minha morte ser-te-á mais simples. morrer é só isto, cair da ponte 25 de abril de encontro ao tejo, ser água com água até o corpo se prender às margens, de papo cheio boiar, ir boiando, foi sempre isso que soube fazer maria, foi sempre isto. vou-me embora que a vida que me estava destinada é um erro. hoje de noite, enquanto dormes, vejo-te o rosto adormecido sob a almofada, os cabelos quietos, sem brisa, sem nada que os impeça de estar em paz. gostava que fosses assim a vida inteira, a tua, que a minha vida está no fim. espero que adormeças em paz hoje, amanhã e para sempre, sem mim maria, sem mim.
1 comentários:
há quanto tempo? mesmo assim a cumplicidade das palavras existe entre nós!
vem balouçar nas minhas frases que eu balanço nas tuas palavras...
beijo GRANDE...
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