sexta-feira, 14 de novembro de 2008
sem o amor no título
sentaram-se sossegados à porta do coração, à boca da lareira, do lado inverso da sala, oposto às vozes do mundo. falavam de amor mas nunca sobre amor, falavam com os gestos entupidos em desajeitados modos de erguer as mãos, enrolar o cabelo, tecer olhares e depois, já tarde, puxaram-se para mais perto, um encostado ao outro, deixaram que lhes ardessem as palavras com a lenha. quem os visse assim chegados julgaria que entre eles crescera um amor maior, mas o amor não cresce entre eles, o amor cresce neles, não há nenhum espaço entre os corpos por onde o amor pudesse crescer. e sossegados deixaram que os corpos se plantassem ali, entre a madeira do soalho, e ali ficaram até de manhã, quando as montanhas se encolheram para deixar passar os primeiros raios de sol. ele levantou-se e foi, pé ante pé, sem saber que ela o sabia ausente, partiu com os olhos cobertos de lágrimas, ela ficou calada, com um frio a secar-lhe a garganta, não gritou, ela sabe que os sonhos só duram uma noite.
3 comentários:
e no entanto...talvez o encontremos...
Olá menina
Um texto muito bonito, muito teu.
mas...às vezes, existem finais felizes... às vezes...
Beijinhos
Hão-de encontrar-se noutro lugar...
onde não seja preciso deixarem arder as palavras com a lenha...
Belíssimo texto. Um beijo.
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