sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

ela abriu os olhos e fechou o mundo inteiro dentro deles, ancorado no fundo do azul marinho que pendia em forma de lágrimas no castiçal da sala. hoje é domingo e as aves migratórias regressam sob o peso das asas molhadas pelas chuvas de abril, escurecem algumas vozes, compridas vozes, migratórias, presas ao fundo da rua que é um beco sem saída. e na despedida os pássaros vagueiam em torno da sua cabeça. ela está morta e a sua morte serve de presságio à consequente morte da paisagem, rubra, escarlate como o sol a adormecer atrás do rio. meia dúzia de gritos permanecem apertados contra o peito, onde algumas dores mais profundas fazem ninho, e dos gritos que se ouvem chegam as palavras, sussurradas como silêncios, apodrecidos entre os dedos das mãos. tudo é pó e voa com a aragem ao longo dos caminhos de terra batida. o cão late à porta de casa, com o pêlo sujo à espera de um carinho. ela desce as escadas e vem pousar-se na grade, fala com o medo a meter-se-lhe entre os dentes, não consegue adormecer. 

por: mar


3 comentários:

Blogger Graça Pires escreveu...

Começamos a ler: "ela abriu os olhos e fechou o mundo inteiro dentro deles" e gostamos do texto todo, como sempre. Um beijo.

12 de dezembro de 2008 às 17:52 
Blogger Vanda Paz escreveu...

A primeira frase por si só vale imenso. Bom texto

Beijo

12 de dezembro de 2008 às 18:44 
Blogger AnaMar (pseudónimo) escreveu...

...e sendo noite de lua cheia, estas palavras encerram-me o sono.

12 de dezembro de 2008 às 18:54 

Enviar um comentário

< home










mar


sobre este mar:

estrelas do mar
maré cheia
um mar de fotos
lugares do mar


arquivo:

março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
setembro 2008
outubro 2008
novembro 2008
dezembro 2008
janeiro 2009
fevereiro 2009
março 2009
abril 2009
maio 2009
junho 2009
julho 2009
agosto 2009
setembro 2009
novembro 2009
dezembro 2009
janeiro 2010
fevereiro 2010
março 2010
junho 2010