domingo, 11 de janeiro de 2009
depois de gastar a mármore na soleira da porta, venho sentar-me no alpendre onde o vento canta, e vejo-te chegar, com a luz do fim de tarde, por detrás das colinas. vens devagar, sobes pela paisagem como o nevoeiro, trazes, no topo das colinas, algum frio, alguma dor madura e depois de dares a volta ao vale inteiro, na copa dos pinheiros mansos e dos tojos, vens aninhar-te nas urtigas, ao lado davelha rede e falas comigo. amei-te muito, tanto, sempre, antónio, amei as mãos velhas e secas como amava os campos cultivados do teu peito, por onde um coração se perdia em terra acabada de lavrar. todos os dias fechava a cerca aos cavalos selvagens que galopavam no teu peito. todos os dias sonhava, dançava, pequena ainda, eu, sempre pequena, que a teu lado era impossível ser-se maior. e agora que apodreceram as frutas do pomar, agora que as silvas murcharam e a geada queimou a horta, tudo é morte. desde a casa onde me adormeceram há muito os ossos, até há velha rede onde me sento agora para te falar.
1 comentários:
olá mar.
estás em bom caminho.
gostei como gosto sempre das tuas palavras meigas e ferozes.
bjs
flávio
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