sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
eras triste. tinhas as mãos pintadas de calos, desenhadas num traço tão fino que a pele, encurrilhada, se gastava como se gastavam os pés. eras bonita, às vezes quando o sol te entardecia a pele e na estação dos teus olhos parava, à mesma hora, o comboio de sempre. eras tu, na vagarosa quietude da manhã, na lentidão dos passos, às voltas, como uma dança. e era de ti que se faziam os meus dias, estendidos ao sol num calendário de tempo ameno. raramente sorrias, e quando o fazias o teu coração esticava-se até à linha do horizonte, onde logo se dissipava e no azul se esvaía em sangue. agora estás morta. morta com os olhos de vidro encaixados num rosto doente, morta com as mãos de seda em toque estático. e é sem movimento que danças, na minha memória, pés e mãos atados aos meus. boneca.
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