sábado, 31 de janeiro de 2009
não houve poesia na nossa despedida, saiste pelas traseiras, já noite, sem dizeres adeus. talvez tivesses uma razão para comeres o aceno, talvez não, mas nesse dia perdi o meu corpo. por isso hoje te escrevo, para te dizer a solidão que ficou entre as paredes da casa, sobre a tijoleira do mundo. para te contar os dias como se conta a tristeza, lágrima por entre lágrima. gostava de te ver voltar, na tua pressa vagarosa, ver-te cruzar a rua ao fundo e caminhar na minha direcção, as direcções são pontos sem retorno. gostava de te pedir que voltes, quem sabe dar-te a minha solidão para que finalmente a entendesses, mas não posso, não ouso dar-te a minha escuridão, não haveria contrastes, nem sombras, nem estrelas, nem luas. haveria um pano preto a tapar o presente, um ou outro raio de futuro nas manhãs mais claras mas o resto, o que fica para sempre, seriam passos às cegas em semi-círculos. quero morrer sem ti, desencontrada, ferida como uma ave sem penas, magoada como um girassol à chuva. quero dizer-te adeus hoje à tardinha, ver-te subir a rua com o cigarro entre os dedos, perder-te como ao fumo na garganta, e então estar certa de que foste para sempre. por agora, antes que hoje me mate esta tristeza, quero tocar-te e ver-te o movimento, como um pêndulo, dali para aqui, até que, num movimento brusco, me despedaces o coração.
ao luas que ainda aqui mora
e ao luís nunes que mora ali,
numa rua pendular
1 comentários:
é bom (des)cobrir coisas destas. o meu beijo. (estás sempre aqui).
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