sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
sexta-feira, é tarde.
ela estava, branca como a neve, cabelos cor de azeitona, mãos de viúva pousadas sobre o parapeito de uma janela fechada, ela estava. o relógio da sala dobrava-se sob o peso das horas, pesadas como as peles das mãos fechadas num murro, as unhas entranhavam-se pele adentro até o sangue coagular ao frio. e ela era uma tarde de sexta-feira, mal assinalada no calendário, a tremer no rosário de uma nossa senhora triste, pintada de novo. ela era avó durante os dias mortos, era mãe às vezes, quando o banheira se enchia de espuma e a àgua dos risos inundava a casa. ela era tudo e estava triste como a tarde.
e sexta-feira é tarde, gritavam-lhe as vozes de dentro das paredes cheias de humidade e a pele tremia-lhe rente ao osso, no frio de algumas, tantas, vontades de ser velha.
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