terça-feira, 13 de janeiro de 2009
tenho medo de entornar a vida, medo de me entornar com ela e ser então caudal de rio à porta do mar, parado. e é do meu medo que se constrói a tua ausência, não porque a queira, mas porque tenha de a sentir para me aperceber que sem ti o inverno dura 365 dias. gosto do inverno, gosto da geada nos campos a pesar a erva, a baixar o coração até ao rés-do-chão do corpo, gosto dos dias pequenos, da neve sobre a copa dos plátanos, do gelo nos passeios e de ti, ao longe, com o casaco comprido e o cigarro preso entre os dedos. gosto de te ver chegar, fumas a vida e eu com ela, devagar para me saboreares bem, antes de morreres na despedida de dois corpos que nunca se amaram. tenho medo de me esquecer de morrer, de morrer menos, de dar ao corpo a vida que ele não tem e depois, tenho medo de me esquecer de dar corda ao mundo, deixá-lo ser quieto, calado, em cima da cómoda. baixo os olhos, baixo o corpo e a voz com ele, para te dizer: volta.
1 comentários:
gostei! gostei mesmo!
Obrigado.
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