sábado, 29 de agosto de 2009

pediu-me então que descalçasse os olhos e, como quem espera alguma coisa, pôs-se a cambalear o corpo para a frente e para trás. não consegui esquecer-me desta imagem, do seu semblante póstumo, o seu perfil a desfocar-se perante a nitidez do meu silêncio. acreditei que fosse um anjo, talhado a ouro, sobre o altar posto, à espera que um qualquer a viesse cobiçar e lhe roubasse também com os olhos, o que eu lhe roubava agora, a juventude. parecia-se com alguém que eu já vira, anos atrás, creio, recordo agora, a face destituída de expressões, história acabada de que já nem me lembrava não fossem tão grandes as semelhanças entre esta e a outra, aquela que me viria a cobiçar o coração. e no peito, irrequieto, abriu-se de novo a ferida, o buraco de onde um coágulo sanguíneo saiu sem eu contar. ainda com o peito aberto, assisti à sua morte. perigosa é a morte daquela que amamos, tão certa como a nossa própria morte, a que nos espera depois de braços abertos nas ruas da solidão.

por: mar


3 comentários:

Blogger eduardo maria morgado escreveu...

não sei como vim parar aqui, mas agradeço que me tenha perdido. obrigado pelas belas palavras, mar.

5 de setembro de 2009 às 15:02 
Blogger Evuska escreveu...

Lindo.....
.... como sempre!

Bjo

8 de setembro de 2009 às 22:54 
Blogger Ana Duarte escreveu...

Adoro ler-te.

10 de setembro de 2009 às 15:29 

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