terça-feira, 9 de março de 2010

andava por aí a semear dor nos corações. era-lhe difícil levar a boca ao peito e lamber as feridas por isso queria outras bocas, maiores que a dele, com línguas compridas; mas línguas compridas falavam muito e ele gostava de silêncio. o silêncio era-lhe uma casa, outra, mais pequena, onde de braços e pernas esticados tocava em todas as paredes. onde em bicos de pés chegava às estrelas e estas lhe ficavam presas ao cabelo. era por isso que de noite se assemelhava a uma constelação e era bom, deixar o corpo ao abandono da terra e observá-lo até adormecer. andava por aí a provocar a dor, queria fazê-la sangrar, vê-la parir, talvez para lhe resolver o mistério, descobrir-lhe um antídoto. às vezes viam-no a cruzar os braços em volta do pescoço, era flexível, vi-o tantas vezes num oito e tantas vezes o vi assim que quando assim não estava quase não o reconhecia. de manhã passava na minha rua, com o coração preso por uma trela, a dois passos do corpo nú. um dia o coração fugiu-lhe, bem vi, soltou-se e correu rua abaixo, desenfreado. soube mais tarde que morreu atropelado por um peão.

por: mar


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